Exercício físico e emagrecimento – principais abordagens (parte 1/2)

8 dezembro, 2024



    A relação entre atividade física e perda de peso é amplamente estudada na literatura médica, evidenciando que diferentes tipos de exercícios oferecem benefícios para quem busca emagrecimento, melhora na composição corporal e saúde metabólica. Este texto explora as modalidades de exercícios mais eficazes para indivíduos com sobrepeso e obesidade, com base nas pesquisas mais recentes.


    Treino aeróbico (TA): o clássico para perder peso

O TA é a modalidade historicamente mais recomendada para a redução do peso e do índice de massa corporal. Ele é caracterizado por atividades contínuas e de intensidade baixa, moderada a alta, como caminhada, corrida, ciclismo e natação, que aumentam o gasto calórico de forma eficiente, a depender da intensidade, durante a execução do treino.

    Efeitos na perda de peso:

  • estudos demonstram que programas de exercícios aeróbicos, quando realizados de forma regular, levam a uma perda adicional de (apenas…) 2 a 3 kg em média em indivíduos com sobrepeso;

  • além disso, o TA é eficaz na melhora do condicionamento cardiovascular e da saúde metabólica e na redução da gordura visceral abdominal, que está diretamente associada a doenças metabólicas, como diabetes tipo 2 e hipertensão arterial.  

Duração e intensidade recomendadas:

  • para uma perda de peso significativa, recomenda-se a prática de 300 a 420 minutos semanais de exercício aeróbico de intensidade moderada. Atividades de menor impacto, como caminhada, são frequentemente recomendadas para iniciantes.

Benefícios adicionais:

  • O TA também melhora a aptidão cardiovascular, a capacidade pulmonar e a sensibilidade à insulina, promovendo uma saúde metabólica mais robusta.

Limitações:

  • embora geralmente eficaz para a perda de peso, pode ter um impacto modesto e há estudos que mostram que ele pode não levar a uma perda significativa em alguns casos;

  • programas de TA isolado resultam em uma redução modesta de peso e circunferência da cintura e não são considerados uma terapia eficaz de perda de peso por isoladamente;

  • a perda de peso é menor do que o esperado, possivelmente, devido a adaptações comportamentais que reduzem o gasto energético diário;

  • TAs como corridas mais longas são mais eficazes do que formas mais curtas ou menos intensas, como trote, caminhada ou hidroginástica. Essa discrepância pode ser atribuída a vários fatores, incluindo o tipo e a intensidade do exercício, respostas fisiológicas individuais e comportamentos compensatórios pós-treino, como aumento da fome e redução do gasto de energia em atividades não exercício (ex.: preferir ficar sentado ou deitado a andar), que neutralizam o déficit energético criado pelo treinamento, como algo provocado pelo “cansaço” pós-treino.


Treino intervalado de alta intensidade (HIIT): eficiência em menos tempo

O HIIT tem ganhado popularidade nos últimos anos devido à sua capacidade de oferecer resultados expressivos em sessões curtas de treinamento. Ele consiste em alternar períodos de esforço intenso com intervalos de recuperação ativa (menor esforço) ou descanso. Pode ser feito em esteira ou bicicleta ergometrica, em elípticos, nadando ou em circuitos, com intervalos, geralmente, de 30 segundos a um minuto para cada exercício.

Efeitos na composição corporal:

  • o HIIT é particularmente eficaz na redução da gordura corporal e da circunferência da cintura;

  • estudos mostram que ele pode gerar perdas de gordura comparáveis ao ou maiores que TA contínuo de intensidade moderada (TACIM), com o benefício adicional de melhorar mais significativamente a aptidão cardiorrespiratória.

Por que escolher o HIIT?

  • o HIIT é ideal para pessoas com agendas apertadas, já que sessões de 20 a 30 minutos oferecem benefícios similares a programas mais longos de TA;

  • é uma escolha valiosa para quem busca aumentar o metabolismo basal, já que o efeito "pós-queima" do HIIT (excesso de consumo de oxigênio pós-exercício) pode prolongar a “queima” de gordura por várias horas Até 1 a 3 dias!) após o término da atividade.

Considerações importantes:

  • por sua alta intensidade, o HIIT pode não ser indicado para todos, especialmente indivíduos sedentários, destreinados ou com comorbidades cardiovasculares. É importante realizar uma avaliação médica antes de iniciar o treinamento;

  • é conhecido por aumentar tanto o número quanto o tamanho das mitocôndrias no músculo esquelético em comparação com o TACIM, mesmo quando o trabalho total é igualado. Esse efeito melhora a função mitocondrial, o que é crucial para melhorar a saúde metabólica e o desempenho físico (TACIM pode melhorar a função mitocondrial, mas seus efeitos geralmente são menos significativos do que os do HIIT).




… E tem mais!

Na próxima postagem, vamos fechar, por ora, o tema sobre a relação entre exercícios físicos e emagrecimento falando sobre treino de resistência, combinações dos diferentes tipos de treinamento e outros assuntos mais. Até lá!




Fontes DOI:

  • 10.1111/obr.13256

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  • 10.1007/s11154-023-09805-5

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  • 10.5507/ag.2019.013


Fontes PMID: 

  • 11421161

  • 2303663

  • 24998610

 

Acupuntura e lombalgia: benefícios e alternativas

28 novembro, 2024

        


        A lombalgia (dor lombar) é uma das principais causas de incapacidade em todo o mundo, impactando significativamente a qualidade de vida. Entre as diversas abordagens terapêuticas disponíveis, a Acupuntura tem sido amplamente estudada como uma alternativa no manejo dessa condição. 


        Estudos recentes destacam que a Acupuntura apresenta:

  • efeitos imediatos e de curto prazo na dor: revisões e meta-análises mostram que a Acupuntura pode ser eficaz para alívio da dor logo após o tratamento e em até 12 semanas, com evidências menos robustas para benefícios no médio a longo prazo, mas, ainda assim, sugerindo efeito benéfico;
  • benefícios mais limitados na função e na qualidade de vida do que na analgesia: apesar de reduzir a dor, os ganhos em termos de funcionalidade e qualidade de vida são considerados de menor monta ou sugestivos em estudos clínicos, o que sugere a necessidade de combinação de outras estratégias terpêuticas;
  • comparação com Acupuntura simulada (“placebo”): a Acupuntura real demonstrou benefícios moderados em relação à simulada.


        Outras intervenções têm mostrado resultados semelhantes ou superiores à Acupuntura no tratamento da lombalgia, especialmente para casos crônicos:

     Exercício físico:

  • eficácia: considerado uma das opções mais eficazes, promovem benefícios sustentados na redução da dor e na melhoria da função nos casos crônicos. Nos casos agudos, em que os exercícios podem até piorar a dor, a Acupuntura é uma excelente escolha;
  • personalização: podem ser adaptados às necessidades individuais, maximizando os resultados;
  • evidências: amplamente apoiado por diretrizes clínicas, o exercício físico é indicado como abordagem inicial para lombalgia crônica.

     Reabilitação multidisciplinar:

  • abordagem combinada: integra estratégias físicas e psicológicas, como terapia cognitivo-comportamental, para melhorar dor e função;
  • benefícios: mostra eficácia moderada em estudos clínicos, especialmente quando comparada a tratamentos isolados.

     Terapias complementares:

  • ioga: demonstrou benefícios moderados na dor e na função, sendo uma opção viável para muitos pacientes;
  • manipulação espinhal e massagem: podem oferecer alívio temporário, mas os efeitos geralmente são pequenos.


        Comparação entre Acupuntura, Fisioterapia e anti-inflamatórios  (AINEs) – cada abordagem possui vantagens específicas:

  – Acupuntura: indicada para alívio nos quadros agudos, de início recente, com boa tolerabilidade e poucos efeitos adversos relatados, podendo também ser uma opção em casos crônicos, de longa duração, em associação a outras terapias;

  – Fisioterapia convencional: inclui exercícios personalizados, sendo uma das opções mais eficazes a longo prazo;

  – AINEs: Eficazes para dor aguda, mas com limitações devido aos riscos de uso prolongado (complicações gastrointestinais e renais), podendo gerar efeitos colaterais importantes mesmo se usados por pouco tempo.

        

            A Acupuntura é uma ferramenta valiosa no manejo da dor lombar, especialmente como parte de uma abordagem integrada e personalizada. É uma excelente opção para quadros de dor lombar de início recente, devido à eficácia e à segurança. No entanto, nos quadros de dor crônica, suas limitações em funcionalidade e qualidade de vida destacam a necessidade de combiná-la com estratégias mais abrangentes, como Fisioterapia, exercício físico e reabilitação multidisciplinar, dependendo do perfil do paciente e das preferências individuais. Isso não é um demérito à Acupuntura, já que ela pode continuar sendo uma aliada eficaz no combate à dor crônica e também porque toda doença crônica tende à necessidade de um tratamento mas abrangente, multidisciplinar e de longa duração.


        A variedade de achados nos ensaios clínicos sobre Acupuntura deve-se, entre outros fatores, à multiplicidade de combinações de pontos de Acupuntura que podem ser utilizadas em cada paciente e em cada sessão, o que torna difícil a padronização da terapêutica a ser avaliada e a interpretação dos resultados. Por exemplo, um estudo pode concluir que "Acupuntura não é eficaz para a doença X", mas, quando o protocolo de tratamento estudado é examinado, pode-se constatar que ele não é uma cartilha seguida por todos os acupunturistas. O mais correto seria dizer que a combinação ou as combinações de pontos empregadas no estudo hipotético não foram eficazes. Ou seja, não se pode julgar toda a Acupuntura por apenas uma sequência de pontos que foi escolhida para ser estudada. Sim, existem as combinações de pontos geralmente usadas para determinados quadros clínicos, que são prescritas em grande parte dos casos, ainda que não como uma receita de bolo. Porém, o tratamento abrangente, verdadeiro e completo, na Acupuntura, envolve não tratar simplesmente as Manifestações (sinais, sintomas e doenças) com esses pontos mais frequentemente prescritos, mas tratar as Raízes (os desequilíbrios que provocam as "síndromes energéticas" e que causam as Manifestações). As Raízes, as verdadeiras causas do problema, são identificadas após longa anamnese e individualização caso a caso. E muitas pesquisas focam somente em alguns pontos de Acupuntura para tratar os sintomas. Ainda por cima, outros pontos, não mencionados em determinado estudo que tenha demonstrado insucesso do tratamento,  podem ser utilizados por outros acupunturistas com sucesso. Por fim, a seleção de pontos para tratar a Raiz, o que poderia elevar a chance de sucesso, não é abordada na maioria dos estudos.


        Fonte:

  • doi:10.15585/mmwr.rr7103a1

  • PMID: 31305037

  • doi:10.1016/j.spinee.2022.11.003

  • doi:10.46747/cfp.6701e20

  • doi:10.7326/M16-2367

  • PMID: 17477101

  • doi:10.1111/ner.12078

  • doi:10.1007/s11916-020-00919-y

  • doi:10.7326/M16-2367doi:10.1097/BRS.0b013e31822ef878


 

Agonistas do GLP-1: potencial, personalização e cuidados

26 novembro, 2024

        


        Os agonistas do receptor GLP-1 (GLP-1 RAs), inicialmente desenvolvidos para diabetes, têm ganhado destaque no tratamento da obesidade. Nos últimos dois anos, o número de prescrições desses medicamentos aumentou 132,6%. Estudos comprovam sua eficácia: em revisões de 2022 e 2023, pacientes tratados com GLP-1 RAs apresentaram reduções significativas no peso corporal, índice de massa corporal e circunferência abdominal.

        Esses medicamentos agem nos receptores do peptídeo-1 semelhante ao glucagon (GLP-1), promovendo a saciedade, retardando o esvaziamento gástrico e modulando os centros cerebrais de fome. Recentemente, combinações como tirzepatida, que também atua nos receptores do polipeptídeo insulinotrópico dependente de glicose (GIP), mostraram resultados ainda mais expressivos na perda de peso.


        Porém, nem todos respondem da mesma forma. Pesquisas lideradas pelo Dr. Andres Acosta identificaram quatro fenótipos de obesidade que influenciam os resultados:
• fome intestinal ("hungry gut"): esvaziamento gástrico acelerado, causando fome frequente;
• fome cerebral ("hungry brain"): saciedade reduzida durante as refeições, levando ao consumo excessivo;
• fome emocional ("emotional hunger"): padrão de alimentação hedônica, associado a emoções;
• metabolismo lento ("slow burn"): ineficiência na queima de calorias.

        
        Esses avanços reforçam a necessidade de tratamentos personalizados para maximizar os benefícios e minimizar efeitos colaterais. Apesar de promissores, GLP-1 RAs podem causar desconfortos gastrointestinais, como náuseas, vômitos e constipação, além de raros eventos graves, embora incomuns, como pancreatite, obstrução intestinal e diminuição importante da peristalse gástrica.

        Outro ponto levantado envolve o impacto na saúde mental. Estudos iniciais sugeriram uma possível relação entre GLP-1 RAs e ideação suicida, mas análises posteriores não confirmaram esse risco. Ainda assim, é fundamental monitorar pacientes com histórico de transtornos psiquiátricos.

        Mais que uma ferramenta de emagrecimento, esses medicamentos devem ser parte de uma abordagem integrada, incluindo mudanças no estilo de vida, como dieta e exercícios. O futuro aponta para a medicina de precisão no enfrentamento da obesidade, combinando genética, fenotipagem e cuidados personalizados.

         Fonte: "Side Effects of GLP-1 Drugs: What Doctors Should Know - Medscape - November 21, 2024."