Acupuntura e lombalgia: benefícios e alternativas
A lombalgia (dor lombar) é uma das principais causas de incapacidade em todo o mundo, impactando significativamente a qualidade de vida. Entre as diversas abordagens terapêuticas disponíveis, a Acupuntura tem sido amplamente estudada como uma alternativa no manejo dessa condição.
Estudos recentes destacam que a Acupuntura apresenta:
- efeitos imediatos e de curto prazo na dor: revisões e meta-análises mostram que a Acupuntura pode ser eficaz para alívio da dor logo após o tratamento e em até 12 semanas, com evidências menos robustas para benefícios no médio a longo prazo, mas, ainda assim, sugerindo efeito benéfico;
- benefícios mais limitados na função e na qualidade de vida do que na analgesia: apesar de reduzir a dor, os ganhos em termos de funcionalidade e qualidade de vida são considerados de menor monta ou sugestivos em estudos clínicos, o que sugere a necessidade de combinação de outras estratégias terpêuticas;
- comparação com Acupuntura simulada (“placebo”): a Acupuntura real demonstrou benefícios moderados em relação à simulada.
Outras intervenções têm mostrado resultados semelhantes ou superiores à Acupuntura no tratamento da lombalgia, especialmente para casos crônicos:
Exercício físico:
- eficácia: considerado uma das opções mais eficazes, promovem benefícios sustentados na redução da dor e na melhoria da função nos casos crônicos. Nos casos agudos, em que os exercícios podem até piorar a dor, a Acupuntura é uma excelente escolha;
- personalização: podem ser adaptados às necessidades individuais, maximizando os resultados;
- evidências: amplamente apoiado por diretrizes clínicas, o exercício físico é indicado como abordagem inicial para lombalgia crônica.
Reabilitação multidisciplinar:
- abordagem combinada: integra estratégias físicas e psicológicas, como terapia cognitivo-comportamental, para melhorar dor e função;
- benefícios: mostra eficácia moderada em estudos clínicos, especialmente quando comparada a tratamentos isolados.
Terapias complementares:
- ioga: demonstrou benefícios moderados na dor e na função, sendo uma opção viável para muitos pacientes;
- manipulação espinhal e massagem: podem oferecer alívio temporário, mas os efeitos geralmente são pequenos.
Comparação entre Acupuntura, Fisioterapia e anti-inflamatórios (AINEs) – cada abordagem possui vantagens específicas:
– Acupuntura: indicada para alívio nos quadros agudos, de início recente, com boa tolerabilidade e poucos efeitos adversos relatados, podendo também ser uma opção em casos crônicos, de longa duração, em associação a outras terapias;
– Fisioterapia convencional: inclui exercícios personalizados, sendo uma das opções mais eficazes a longo prazo;
– AINEs: Eficazes para dor aguda, mas com limitações devido aos riscos de uso prolongado (complicações gastrointestinais e renais), podendo gerar efeitos colaterais importantes mesmo se usados por pouco tempo.
A Acupuntura é uma ferramenta valiosa no manejo da dor lombar, especialmente como parte de uma abordagem integrada e personalizada. É uma excelente opção para quadros de dor lombar de início recente, devido à eficácia e à segurança. No entanto, nos quadros de dor crônica, suas limitações em funcionalidade e qualidade de vida destacam a necessidade de combiná-la com estratégias mais abrangentes, como Fisioterapia, exercício físico e reabilitação multidisciplinar, dependendo do perfil do paciente e das preferências individuais. Isso não é um demérito à Acupuntura, já que ela pode continuar sendo uma aliada eficaz no combate à dor crônica e também porque toda doença crônica tende à necessidade de um tratamento mas abrangente, multidisciplinar e de longa duração.
A variedade de achados nos ensaios clínicos sobre Acupuntura deve-se, entre outros fatores, à multiplicidade de combinações de pontos de Acupuntura que podem ser utilizadas em cada paciente e em cada sessão, o que torna difícil a padronização da terapêutica a ser avaliada e a interpretação dos resultados. Por exemplo, um estudo pode concluir que "Acupuntura não é eficaz para a doença X", mas, quando o protocolo de tratamento estudado é examinado, pode-se constatar que ele não é uma cartilha seguida por todos os acupunturistas. O mais correto seria dizer que a combinação ou as combinações de pontos empregadas no estudo hipotético não foram eficazes. Ou seja, não se pode julgar toda a Acupuntura por apenas uma sequência de pontos que foi escolhida para ser estudada. Sim, existem as combinações de pontos geralmente usadas para determinados quadros clínicos, que são prescritas em grande parte dos casos, ainda que não como uma receita de bolo. Porém, o tratamento abrangente, verdadeiro e completo, na Acupuntura, envolve não tratar simplesmente as Manifestações (sinais, sintomas e doenças) com esses pontos mais frequentemente prescritos, mas tratar as Raízes (os desequilíbrios que provocam as "síndromes energéticas" e que causam as Manifestações). As Raízes, as verdadeiras causas do problema, são identificadas após longa anamnese e individualização caso a caso. E muitas pesquisas focam somente em alguns pontos de Acupuntura para tratar os sintomas. Ainda por cima, outros pontos, não mencionados em determinado estudo que tenha demonstrado insucesso do tratamento, podem ser utilizados por outros acupunturistas com sucesso. Por fim, a seleção de pontos para tratar a Raiz, o que poderia elevar a chance de sucesso, não é abordada na maioria dos estudos.
Fonte:
doi:10.15585/mmwr.rr7103a1
PMID: 31305037
doi:10.1016/j.spinee.2022.11.003
doi:10.46747/cfp.6701e20
doi:10.7326/M16-2367
PMID: 17477101
doi:10.1111/ner.12078
doi:10.1007/s11916-020-00919-y
doi:10.7326/M16-2367doi:10.1097/BRS.0b013e31822ef878